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SUBSÍDIOS PARA A HISTÓRIA DE CRISTALINA

 Por José Aluísio Botelho


CAPELA DE SÃO SEBASTIÃO DOS CRISTAIS

 Em 1892, segundo cronista que visitou a região da Serra dos Cristais, então pertencente a comarca de Santa Luzia, Luziânia, a região era aprazível com um clima comparável ao de Nova Friburgo e Petrópolis no estado do Rio de Janeiro, e para acorriam inúmeras pessoas em busca de cura para seus males, principalmente respiratórios, como, por exemplo, a tuberculose. Em princípios daquele ano, diz o cronista, a localidade contava apenas 18 casas de morada, água em abundância e matas virgens, com a exploração de cristal apresentando boa produtividade. Ainda segundo o nosso cronista, existia na povoação, cinco negociantes de cristal e cerca de duzentos a trezentos garimpeiros por eles sustentados. Na ocasião, visitava o lugar o reverendo padre Zeferino de Abreu Rangel, pároco de Santa Luzia, que a pedido do povo, solicitou ao importante lavrador Manoel Borges um patrimônio a fim de fundar-se na Serra dos Crystaes uma capela sob a invocação do glorioso mártir São Sebastião. De imediato o fazendeiro disponibilizou meia légua em quadra de terras (cerca de oitocentos hectares), toda de excelente mata virgem, para o patrimônio da capela. Muniu o Rvmo. Vigário dos documentos necessários para requerer ao Exmo. Sr. Bispo a competente provisão para dar início a fundação da capela. E Logo houve subscrição de dois contos de réis para serem empregados nas obras da dita capela. No decorrer do processo, já em maio daquele ano, houve um acréscimo no patrimônio, quando Manoel Borges e outros importantes fazendeiros doaram uma légua quadrada de terra, rica em água e madeira de mata, para aí se edificar a capela de São Sebastião, e toda a terra seria patrimônio do santo. Estando de posse dos documentos de doação, tratou o padre de encaminhar ao Sr. Bispo a petição de provisão da criação da primitiva capela de São Sebastião dos Crystaes. Não há referências quanto ao término das obras, bem como não se sabe quando se deu a inauguração do templo religioso que persistiu por cerca de cinco décadas, pois, somente na década de 1940, edificou-se outra igreja, elevada a condição de Igreja Matriz de São Sebastião.

CINQUENTENÁRIO DE CRISTALINA

No dia 16 de julho de 1966, Cristalina comemorou seu cinquentenário, desmembrada que foi do município de Luziânia pela lei n.º513, de 16 de julho de 1916, quando foi criado o novo município no ponto mais alto do planalto central do Brasil. Seus 50 anos de existência foram comemorados com júbilo e muitas festividades religiosas, cívicas e políticas que duraram desde o alvorecer até a madrugada do dia seguinte. Era prefeito José Adamian e governador do estado Dr. Otávio Lage de Siqueira, que enviou representante.

A organização das festividades foram preparadas por uma comissão de notáveis designadas pelo prefeito, integrada pelo frei Eustáquio, Joaquim de Paiva Resende, Cordelino Lopes Santiago, Kaled Cosac, Joaquim Tiradentes, Floriano Ribeiro, Augusto Peixoto dos Santos e a professora Lutz de Paiva Cosac. Por uma semana a fio, diuturnamente, essa comissão se debruçou na preparação de uma festividade adequada à cidade em seu aniversário histórico.

Logo pela manhã, por volta das 8 horas, na praça da prefeitura, as festividades se iniciaram com uma missa campal celebrada pelo glorioso pároco frei Eustáquio, estando presentes as autoridades locais e o povo que compareceu em grande número, chegando ao milhar segundo alguns cronistas. Durante o sermão, frei Eustáquio incitou a todos os presentes a continuarem unidos pelo progresso da cidade, exaltando a importância do município como potência econômica do estado de Goiás, tal como vemos atualmente. Finalizado o ato religioso, iniciaram-se as comemorações cívicas, representadas pelos alunos das escolas primárias, do ginasial e órgãos esportivos e do comércio, que desfilaram, ao som das fanfarras, pelas principais ruas da cidade. No período da tarde, deram-se as atividades de cunho político, com a reunião da câmara de vereadores sob a presidência do vereador Augusto Peixoto, tendo o coronel médico Otto Mohn como orador oficial. As festividades teve sua culminância com um baile de gala no majestoso clube de Caça e Pesca, quando foi eleita e coroada rainha do cinquentenário, a eterna musa de Cristalina, Mary Grant de Paiva.

Por ocasião da data comemorativa, José Adamian, então prefeito, prometeu entregar o hospital geral da cidade, que estava em obras, “custe o que custar” até o final do ano em curso; prometeu também um parque infantil para deleite da criançada. Acreditava ele que em seis meses a telefonia estaria instalada na cidade. Não sei se cumpriu suas promessas.

Naquele ano de 1966, segundo Otto Mohn, Cristalina contava com cerca de 11 mil habitantes, possuindo um campo de aviação, cinco campos de futebol, uma estação radiotelegráfica, uma difusora local, um cinema, um clube recreativo, dois postos sanitários, duas farmácias, uma biblioteca pública, uma escola rural, um grupo escolar, uma igreja católica, uma igreja batista, uma presbiteriana, dois centros espíritas, uma loja maçônica, uma fábrica de manteiga, uma máquina de beneficiar arroz, duas fábricas de móveis, uma lapidação, seis correspondentes bancários (não havia banco físico) e um cemitério.


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